D'Anto É o grupo de fados da Universidade de Coimbra que acaba de ganhar o concurso: The Voice Portugal (24/08/2025) Foto retirada da internet ______//___________//______ Se gostas de literatura portuguesa, talvez te interesse comprar os ebooks marfer/cilamatos
Bocage: escritor português
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co'o sacrílego gigante;
Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.
Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.
Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.
Bocage
Sugestões de análise
Tema
O tema é a comparação da vida do sujeito poético com a vida de Camões, feita pelo próprio Bocage.
Divisão em partes lógicas
Podemos dividir o poema em duas partes lógicas, separadas pela adversativa "mas" que marca a oposição entre as duas.
Na primeira parte (duas quadras, 1º terceto e segundo terceto até "Mas, oh...", o eu lírico compara a sua vida com a de Camões concluindo que entre ambas houve grandes semelhanças: ambos tiveram que deixar a pátria; ambos foram infelizes no amor e ambos gozaram de pouca sorte: "quão semelhante / acho teu fado (destino) ao meu, quando os cotejo" (comparo). É o primeiro passo para a comparação que se confirma quando o sujeito lírico refere que ambos foram expatriados: "Igual causa nos fez, perdendo o Tejo". Essa saída do país foi muito penosa tendo ambos sofrido muito pois tiveram que "Arrostar do sacrílego gigante" (referência ao Gigante Adamastor, personagem de "Os Lusíadas"). Ambos estiveram na Índia e daí a referência ao rio sagrado o "Ganges".
As saudades da pátria e os amores infelizes que por cá tiveram são referidos nos dois últimos versos da 2ª quadra: "Como tu, gostos vãos(...)também carpindo estou, saudoso amante". Aponta como causa possível para todos estes desaires o destino: "ludíbrio, como tu, da sorte dura".
Desiludido propõe como solução para esse estado de coisas a morte: "Meu fim demando ao céu, pela certeza/de que só terei paz na sepultura".
Mas se Camões foi o seu modelo nas desgraças, já não o foi no "engenho e arte" e daí a segunda parte do soneto onde Bocage revela essa tristeza. "Mas, óh tristeza / se te imito nos transe da Ventura/ Não te imito nos dons da Natureza".
Sentimentos expressos pelo sujeito poético
Bocage revela sofrimento, revolta e tristeza, sentimentos que são revelados, essencialmente por figuras de estilo como, por exemplo
a comparação
expressa pelo vocábulo "como" anaforicamente: "como tu/ como tu"
a metáfora
"quão semelhante/Acho teu fado ao meu"
a apóstrofe
"Camões, grande Camões(...)Óh tristeza"
a adjetivação expressiva
"grande Camões"; sacrílego", "gigante"; "gostos vãos"; vão desejo".
a personificação
"Ganges sussurrante"
a antítese
"Se te imito / não te imito"
Caraterísticas neo-clássicas
Poema em forma de soneto (duas quadras e dois tercetos)
Verso decassílabo
Influência do Destino sobre a vida do peta
Caraterísticas pre-românticas
O desalento e o pessimismo do poeta
O Estilo coloquial
A mistura de géneros literários
O Recurso a vocabulário tétrico: "cruel no horror que vejo"
A procura da morte como refúgio para os seus males
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