Luís Vaz de Camões foi uma poeta português
(Poderá ver a sua biografia neste blog)
Aquela triste e leda madrugada,
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade
quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se de üa outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
de que uns e outros olhos derivadas
se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas.
Camões
Sugestões de análise
Este poema pode dividir-se em duas partes lógicas. A primeira corresponde à 1ª quadra e consiste na apresentação da personagem principal e na sua descrição: uma madrugada.
A madrugada é caraterizada como sendo alegre, mas simultaneamente triste:"triste e leda" e apresenta sentimentos de "mágoa e piedade". Para dar à madrugada estas caraterísticas de ser humano o sujeito poético recorreu à personificação.
Nos dois últimos versos o sujeito poético afirma também que enquanto existir saudade, no mundo, deseja que esta madrugada nunca seja esquecida:"enquanto houver no mundo saudade, quero que seja sempre celebrada".
A 2ª parte do poema desenvolve-se com a afirmação, por parte de Camões, de que a madrugada foi a única testemunha da separação de dois namorados:"Ela só viu apartar-se de ua outra vontade" e com a conclusão de que esses dois amantes nunca poderiam separar-se:"ua vontade que nunca poderá ver-se afastada".
O tema é a saudade que os dois amantes sentem pelo facto de terem sido obrigados a separar-se um do outro.
Podemos concluir que a ação focado no poema (a separação, dos namorados) se passou na primavera, ao romper do dia, pois há referências a uma Natureza com clima suave; havia campos com flores:"amena e marchetada" e o dia mal começava a raiar:"Ela(...)/Saía, dando ao mundo claridade".
Para nos transmitir a sua mensagem o sujeito poético utilizou, (além da personificação já atrás referida) adjetivação expressiva:"triste e leda" que é simultaneamente uma antítese; "amena e marchetada". Recorreu ainda à hipérbole "lágrimas em fio" e "se acrescentavam em grande e largo rio" para revelar o estado emocional em que se encontravam as personagens (choravam muito); a antítese:"fogo frio" e, de novo a hipérbole:"dar descanso às almas condenadas".
Sob o ponto de vista formal o poema é um soneto (duas quadras e dois tercetos).
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