Na peça põe-se em evidência o bem comum, ou seja, Inês é morta por se considerar que, para o bem da independência de Portugal, D. Pedro não devia casar-se com a mulher que amava (D. Inês), por isso a morte desta impunha- se.
Resumo
António Ferreira faz da sua obra uma tragédia à maneira clássica:
- Dividiu a peça em 5 atos e cenas
- Utilizou, normalmente, o verso decassílabo com quebrados de 6 e 4 sílabas no Coro e o verso branco
- Usou didascálias e a indicação das falas das personagens, pelo nome respetivo
Ação
- A ação de toda a tragédia é despida de cor epocal
- Toda a ação é de profunda agitação psicológica
- Reside no conflito entre as razões de Estado e as do Amor
Personagens
- Na Castro surgem poucas personagens e nobres como convinha a uma tragédia à maneira clássica.
Inês
Um Coro
Um Secretário,
Uma Ama
Os Conselheiros
D. Afonso IV
Papel desempenhado pelas personagens
- Inês é a personagem principal, vítima do Amor
- O Coro desempenha as funções de moderador e sensato que acalma e apazigua a protagonista
- O Secretário é o confidente de D. Pedro
- A Ama é a confidente de D. Inês
- A Ama e o Secretário representam a voz do bom senso
- Os Conselheiros têm como função incentivar o Rei a matar Inês (Razão de Estado)
- O Rei D. Afonso IV intervém diretamente na ação com a difícil tarefa de decidir a morte de Inês
Ato I
A peça inicia-se com um diálogo de Inês com a ama e depois com o Coro revelando, por um lado: calma, alegria e confiança, por outro, a sua inquietação pelos rumores do povo
D. Pedro (ausente) dialoga com o Coro e o Secretário. É o momento do desafio (Hybris). O Infante está cego de revolta e no seu monólogo e diálogos revela a sua insensatez e teimosia
Ato II
O Rei dialoga com os Conselheiros. É o momento da explosão do conflito, do sofrimento (Phatos) do Rei que sofre com a dolorosa situação em que se encontra (dividido entre razão do Estado e a do coração).
E eis que chega a altura da revelação (Ananké): A morte de Inês é uma necessidade. É um terrível dilema para o Rei que propõe o exílio, um mosteiro, mas sem resultado.
Pacheco serve-se da teoria de Maquiavel e afirma a natureza divina dos Reis, incentivando sempre à morte de Inês: “O bem comum, Senhor, tem tais larguezas / com que justifica obras duvidosas”.
Mas o rei não se convence e argumenta: "não se há de fazer mal por quantos bens, se possam d’ahi seguir”.
No entanto e perante a tenacidade do conselheiro o Rei toma atitude de Pilatos: deixa a decisão aos Conselheiros
Ato III
Dá-se um adensamento do clima trágico
Inês dialoga com a Ama sobre um sonho terrífico que tivera. Esse sonho era profético pois, logo adiante, vem o Coro anunciar a sua morte
Inês, primeiro não entende. Pensa que lhe estão falando da morte do Infante que considera como sua (doutrina platónica segundo a qual “O amador se transforma na cousa amada”)
Quando finalmente compreende a tragédia que a destruiu, aceita o seu destino com dignidade: não foge como lhe foi sugerido pelo Coro: “Eu fico, fico só, mas inocente”- é a sua resposta
Caminha-se, a passos largos, para o clímax
Ato IV
O Rei e os seus acompanhantes vão ter com Inês para a matar
Esta apresenta-se, com os filhos, ao avô e Rei e faz-lhe um discurso comovedor para que a poupe
Na súplica que faz ao Rei, Inês dá mostras de elevada qualidade persuasiva apelando, com sucesso, à justiça e clemência e afirmando que é inocente. Consegue-o por meio de vários artifícios:
Apóstrofes
Vocabulário da mesma área semântica (“matas /matando/morreu/sangue/brados/choros/triste”) que são, frequentemente, repetidos.
A interrogação
O modo imperativo (incentivando os filhos a pedirem misericórdia ao avô, mostrando o seu desespero imaginando seus filhos sozinhos: “Abraçai-me, meus filhos, abraçai me/despedi-vos dos peitos que mamaste / Estes sós foram para sempre, Já vos deixam / Ah já vos desampara esta mãe vossa”
É o auge do sofrimento de Inês (Pathos) que caminha para o clímax pedindo socorro ao Rei, mais uma vez, para que não a mate: “ Rey Senhor / Pois podes socorrer a tantos males/ socorre-me, perdoa-me. Não posso/ Falar mais. Não me mates/Não me mates/ Senhor Não to mereço”
O rei enfraquece a sua ira e dá-se um abrandamento do “pathos”, mas Inês tem da morrer para a independência de Portugal e é o Coro que anuncia a sua morte realçando a injustiça do assassínio: “Ó nunca disto / Mais innocente sangue!”
A indignação das Moças de Coimbra está bem patente no paralelismo da forma do seu discurso dirigido ao Rei: “ouves os brados / da inocente moça? Ouves os choros / dos innocentes filhos?”
Também a interrogação que dirige ao Rei é sugestiva: “Como sofres/ Ó Rei, tal injustiça?”
D. Afonso IV responde, mais uma vez, com o seu dilema: “afronta-se, minha alma. Ó quem pudera / Desfazer o que he feito
A morte de Inês, tal como é próprio da tragédia clássica, não se dá em cena
No desfecho do Ato, o Coro culpa o Amor pela morte de Inês, ou antes, “a vida / (...) cortada em flor” da linda Inês".
Contudo refere-se-lhe como um passo para a glória, glória que ela não adquiriria na Terra: “mas esta viverá, enquanto o Amor / Entr’os homens reynar”.
Ato V
A peça termina
D. Pedro, sem saber ainda da má notícia decide euforicamente viver com Inês, em Coimbra
Pela última vez, a força do Amor traduzida platonicamente na fusão dos dois seres: " Minh’alma cá me tens, tenho cá a tua/ Morrendo uma destas vidas, Ambas morrem”
A cruel notícia chega de rompante informando da morte de Inês
Atinge o clímax através de sucessivas frases curtas, interrogativas, exclamações, repetitivas
Mas é preciso sepultarem mês e a tragédia termina com a longa fala de D. Pedro convidando Coimbra a acompanhá-lo na sua dor
A revolta leva-o a castigar severamente os assassinos e a considerar o pai seu “inimigo”
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