Avançar para o conteúdo principal

Cegonhas em Marrocos

 

Florbela Espanca- análise do poema Vaidade

Este é o nosso blog


Mas também temos eBooks à venda, na Amazon

Coleção
 Aprender é fácil

     (Portuguese Edition) eBook Kindle

por Cila Matos (Author)



Estes eBooks são constituídos por inúmeras perguntas teóricas seguidas das respetivas respostas  e por vários testes, igualmente com sugestões de respostas para todas as perguntas 
 


Poema 
"Vaidade"

Sonho que sou a poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto vou voando,
Acordo do meu sonho... e não sou nada!

Do livro "Sonetos" de Florbela

Sugestões de análise

O sujeito poético desenvolve 3 conceitos fundamentais: o sonho; o despertar; o simbolismo.

É através do sonho que o eu lírico revela o seu narcisismo, o seu egocentrismo, pois utiliza metáforas, hipérboles e símbolos para se ir descrevendo como um ser superior, como alguém que se ama a si próprio.  

No entanto como Florbela era dotada de uma personalidade contraditória, surge-nos o último terceto como um desmentido de tudo o que foi sugerido-acorda do sonho e conclui que afinal não é nada: "acordo do meu sonho...e não sou nada!".

Algumas das metáforas mais sugestivas onde explana o "sonho" são aquelas em que se compara com a "Poetisa eleita", ou seja, a melhor, a preferida;  em que afirma, também, que os seus versos " tem claridade /  Para encher o mundo !". 

Volta a comparar-se diretamente como  um ser superior através da afirmação: "sou Alguém (...) / Aquela de saber vasto e profundo". Notar o simbolismo transmitido pelo facto de escrever com maiúscula no interior do verso: "Alguém" (1º verso do primeiro terceto), para transmitir o seu grande valor.

Todas estas metáforas são completadas por hipérboles  que simbolizam, igualmente, o grande orgulho que deposita nas suas qualidades intelectuais ("Poetisa eleita (...) / que diz tudo e tudo sabe / Que tem inspiração pura e perfeita (...) um saber vasto e profundo").

Considera a sua poesia tão importante que não se inibe de exagerar afirmando que um só dos seus versos é o suficiente: "Para encher todo o mudo" e, até, para deleitar "aqueles (...) que morrem de saudade". ou, ainda os "de alma profunda e insatisfeita" e vais mais longe pois classifica o seu saber como tão extraordinário "vasto e profundo" que até a Terra, se lhe curva em reverência "Aos pés de quem a Terra anda curvada!". 

Mas dá-se a queda daquele anjo tão sublime e acordo do sonho e conclui que tudo se esvaiu e apenas a triste realidade ficou "não sou nada!". que triste realidade! Mas era mesmo assim esta poeta - uma personalidade contraditória e rica onde o orgulho, o narcisismo e as deceções se entrelaçavam e se revelaram através de poemas, como este.

                                                                                                               cilamatos/marfer

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Luís de Camões, "Descalça vai para a fonte", poema e sugestões de análise

Também poderá gostar de aprender facilmente a  "Poesia Trovadoresca" Se lhe agradar a ideia pode comprar o Ebook que se encontra à venda na Amazone  Kindle Contém 38 perguntas seguidas das respetivas respostas 33 Poesias seguidas das respetiva análises ideológica e formal ________________//________________//__________________//______________//_______________      Camões lírico Descalça vai para a fonte Lianor pela verdura; Vai fermosa, e não segura. Leva na cabeça o pote, O testo nas mãos de prata, Cinta de fina escarlata, Sainho de chamelote; Traz a vasquinha de cote, Mais branca que a neve pura. Vai fermosa e não segura. Descobre a touca a garganta, Cabelos de ouro entrançado Fita de cor de encarnado, Tão linda que o mundo espanta. Chove nela graça tanta, Que dá graça à fermosura. Vai fermosa e não segura.                                     Luís de Camões Sugestões ...

Camões: análise do poema "Se Helena apartar do campo seus olhos"

Notas prévias  1. Este Blog é dedicado ao estudo da Literatura Portuguesa, segundo os programas do Ministério da Educação, para alunos pré-Universitários, numa coleção chamada: "Aprender é fácil"  2.A metodologia seguida consiste em perguntas teóricas seguidas das respetivas respostas. A parte prática consiste em testes com perguntas seguidas das respetivas respostas  3. Já se encontra à venda,  na Amazone, o Ebook da mesma autora deste Blog que se indica em baixo Coleção   Aprender é fácil                         Contém 38 perguntas e as respetivas respostas  e 33 poesias com análise ideológica e formal (Portuguese Edition)  eBook Kindle por  Cila Matos   (Author)   cilamatos é o pseudónimo de Mª Licínia Matos Andrade Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Português e Francês) pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal 👍👍👍👍👍👍 POESIA LÍRICA D...

OS LUSÍADAS - estudo do canto I: Reflexões do Poeta. Estâncias 105 e 106 e explicação em português atual

www.oslusiadastudoanalisado.blogspot.com T ambém poderás gostar de comprar o ebook, já  publicado, na Amazone Coleção   Aprender é fácil                        Contém 38 perguntas e as respetivas resposta  e 33 poesias com análise ideológica e formal (Portuguese Edition)  eBook Kindle por  Cila Matos   (Author)   cilamatos é o pseudónimo de Licínia Matos  Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Português e Francês) pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal  👍👍👍👍👍 Nota: nas duas estâncias que se seguem, o Poeta reflete sobre os perigos a que está sujeito o ser humano tanto no mar como na terra. 105 O recado que trazem é de amigos, Mas debaixo o veneno vem coberto; Que os pensamentos eram de inimigos, Segundo foi o engano descoberto. Oh! Grandes e gravíssimos perigos! Oh! Caminho de vida nunca certo: Que aonde a gente põe sua esperança...