Quando entoar começo com voz branda
Vosso nome d'amor, doce, e suave,
A terra, o mar, vento, água, flor, folha, ave
Ao brando som se alegra, move, e abranda.
Nem nuvem cobre o Céu, nem na gente anda
Trabalhoso cuidado, ou peso grave,
Nova côr toma o Sol, ou se erga, ou lave
No claro Tejo, e nova luz nos manda.
Tudo se ri, se alegra, e reverdece.
Todo mundo parece que renova.
Nem ha triste planeta, ou dura sorte.
A minh'alma só chora, e se entristece .
Maravilha d' Amor cruel, e nova!
O que a todos traz vida, a mim traz morte.
Sugestões de análise
Soneto da natureza essencialmente petrarquista.
O sujeito poético enaltece a amada através da repercussão que tem o simples facto de pronunciar “o seu nome de amor” sobre a natureza em geral e até sobre os homens. No entanto há uma exceção - enquanto, na natureza e nos homens, acontecem coisas maravilhosas ao som desse nome, por antítese a ele traz-lhe imenso sofrimento.
A natureza (terra, sol, mar, vento, água, aves...) enche-se de alegria e movimento: "S’alegra, move” ou fica mais calma: “abranda”, em situações de mau tempo e então o sol erradia cada vez mais bonito: “nova luz ao mundo manda” e as nuvens desaparecem.
Também os problemas das pessoas se resolvem e se transformam em momentos felizes: “nem na gente anda (...) grave”.
Enfim, dá-se uma mudança radical em sentido positivo que culmina com a personificação da natureza: “tudo ri, se alegre, reverdece”.
Por oposição, tal como já foi referido, para o poeta o nome da amada traduz-se em sofrimento, desgosto o que, provavelmente, se deve ao facto da amada não corresponder aos seus sentimentos amorosos. daí a antítese - vida / morte.
Alguns recursos estilísticos mais relevantes:
• adjetivação: “branda” / “doce” / “suave”.
Estes recursos servem para a caracterização da sua voz e do nome da amada.
• Enumeração: “Terra, mar, água...”
• Formas verbais: “alegre, move, abranda...” que têm como objetivo caracterizar a natureza
• Repetição: “ou / ou”; “nem / nem” que têm a finalidade de dar mais realce
• Encavalgamento: “nem na gente anda / trabalhosa”
• Anáfora: “nem / nem”
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