- Relação eu poético / autor
- Modos de expressão literária (narração, diálogo, descrição...)
- Sentimentos / temas
- Inserção na corrente literária
“ Folhas Caídas” foi o nome atribuído por Almeida Garrett à sua produção literária que evoca uma época da “sua vida íntima e recolhida”. Trata-se, de facto, de poesias onde o eu poético e autor se identificam, pois nelas perpassa um lirismo muito individualizado, muito pessoal, muito autêntico, visto que o sujeito poético transmite as próprias vivências do autor que ama como só pode amar um homem que se apaixona violentamente.
A musa inspiradora, de grande parte destes poemas, foi a sua amada - a Viscondessa da luz (D. Maria Montufar). Daí que surjam com frequência referências a "Luz”; "Rosas”; "Lírio” como símbolos dessa relação eu/ tu (sujeito poético / autor e sua amada). De acordo com esta relação, eu / tu, surge também, frequentemente, um diálogo vivo cheio de realismo o que confere, a muitos dos seus versos, uma feição dramatizada. É claro que, nesta espécie de diálogo, em tom coloquial, apenas se ouve a voz do poeta, mas não é difícil, ao recetor /leitor, adivinhar o que as amadas lhe terão dito pois, às vezes, chega mesmo a repetir perguntas feitas por elas, como é o caso do poema, “Se estou contente querida / com esta imensa ternura / De que me enche o teu amor?” e a que ele responde, “-Não. Ai não; falta-me a vida”. Igualmente indiciador de diálogo, entre os dois amantes, é o recurso ao travessão, sinal de pontuação indicador de discurso direto.
Garrett, ao cantar o amor que viveu e como o viveu, expõe o que lhe brota espontaneamente do coração, deixa espraiar a corrente da consciência, em fulgurantes versos onde evidencia a causa do grande amor sensual, físico, erótico, real e que é o tema fundamental da sua coletânea – foram "os olhos ardentes" de uma mulher que fizeram nascer esse amor que ao mesmo tempo dá vida e tortura, o poeta, e o faz andar num, "inferno de amor”, que é toda a razão da sua vida, como ele expressa em, “Que fez ela? Eu que fiz: Não sei, mas nessa hora a viver comecei”. O amor é, portanto, o lenitivo da sua vida, mas também da sua morte, pois em, “Destino”, afirma referindo-se, mais uma vez à mulher amada, “Em ti só sei viver; / só por ti posso morrer”. Este amor é tão intenso que lhe consome o ser, sendo disso exemplo o poema,“Anjo és”, onde a mulher amada é, por um lado o Anjo que o domina, “Anjo és tu... que me domina / Teu ser o meu ser sem fim” e, por outro demónio, “Em nome de quem vieste? / De Jeová ou Belzebu?”.
Este conceito de mulher fatal, que desperta no sujeito poético o amor sensual, que o abarca na totalidade, culmina em poemas como, “os cinco sentidos”, onde deixa transparecer que o seu mundo interior está todo centrado na mulher amada - todos os seus sentidos convergem para ela, “ A ti! Ai a ti só meus sentidos / Todos num confundido / sentem, ouvem, respiram (...) A minha vida em ti”.
Do exposto parece não ser difícil poder concluir-se que o estilo desta coletânea se caracteriza pela sinceridade e pelo realismo emotivo, pois os seus versos revelam um coração que ama deveras e não tem vergonha de o confessar aos seus leitores, o que confere à sua produção literária um espírito inovador que se verifica igualmente na estrutura externa – Garrett não canta a mulher que se adora, como o faziam os seus antecessores – Árcades, mas essencialmente a mulher que se deseja. Abandona, também, os versos de 10 sílabas substituindo-os pelos de redondilha. Para dar mais beleza e expressividade à corrente da consciência, o poeta utiliza além dos recursos já exemplificados: aliterações, rimas intermédias, alternância de versos longos com versos curtos que produzem impressionantes efeitos musicais.
Todas as características apontadas conduzem à corrente literária em que se inserem as “ Folhas Caídas”- o romantismo.
marfer/cilamatos
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